sexta-feira, 31 de julho de 2009

Alterações no Sistema de Fibras Elásticas e Prolapso Uterino (Ehlers-Danlos como fator de risco)

Sabemos que muitos pacientes com a Síndrome de Ehlers-Danlos são submetidos à cirurgias ortopédicas, digestivas e uroginecológicas cujos resultados são frustrantes porque invariavelmente existe retorno da condição que motivou a cirurgia, levando-os a repetidas cirurgias , sem solução definitiva de seus problemas.

O texto a seguir é parte de um estudo de caso que apresenta a explicação para o insucesso de uma cirurgia de correção de prolapso (queda) uterino em uma jovem de 18 anos, virgem. O prolapso uterino pode ter muitas causas , mas raramente ocorre em jovens, sem comprometimentos neurológicos, nuligestas( que nunca engravidaram) e ainda virgens. Tal fato, levou a uma investigação do tecido conjuntivo.

Alterações no Sistema de Fibras Elásticas da Fáscia Endopélvica de Paciente Jovem com Prolapso Uterino.

Consuelo Junqueira Rodrigues1, Henrique Oscar Fagundes Neto1, Marcos Lucon1, Renato Lupinacci1, Domingos Petti2, Laudelino de Oliveira Ramos2, Aldo Junqueira Rodrigues Jr1
Departamentos de Cirurgia1 e de Obstetrícia e Ginecologia2, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo.

RESUMO

É apresentado um caso de prolapso do útero de 2o grau em paciente de 18 anos, virgem. Durante o ato cirúrgico corretivo (cirurgia de Gillian) foram recolhidas amostras dos ligamentos e fáscias para avaliação do sistema de fibras elásticas. Foram demonstradas alterações estruturais nas fibras elásticas semelhantes às que ocorrem no envelhecimento, o que promove o enfraquecimento do tecido conjuntivo induzindo ao defeito de suporte do assoalho pélvico.

Introdução


A manutenção das estruturas pélvicas em sua posição anatômica normal depende da integridade funcional do diafragma pélvico...é necessário estabelecer com clareza o papel da fraqueza do tecido conjuntivo na disfunção do assoalho pélvico, para que possamos diferenciar os casos clínicos e indicar tratamento individualizado.

No presente trabalho, relatamos um caso de prolapso uterino grau II em paciente jovem, nuligesta e virgem, que apresentou recidiva após correção cirúrgica. O estudo histológico dos ligamentos pélvicos e da fáscia muscular mostrou alterações estruturais, que contra-indicaram a reintervenção cirúrgica, em vista da certeza da recorrência.

Discussão
O prolapso uterino geralmente está associado à multiparidade em mulheres menopausadas. Este diagnóstico em neonatos e mulheres jovens e/ou nulíparas parece ser decorrente de defeito da inervação do assoalho pélvico que acompanha as mielodisplasias, anomalias da segmentação lombo-sacral ou trauma que promovem a paralisia muscular favorecendo a protusão de vísceras abdominais e estruturas pélvicas.

A fáscia endopélvica é uma malha de fibras colágenas e elásticas, por onde correm vasos e nervos. A presença de alterações estruturais do tecido conjuntivo da fáscia contribui para o enfraquecimento dos ligamentos, favorecendo a protusão de vísceras pélvicas. Pouco tem sido investigado a respeito de alterações do tecido conjuntivo da fáscia endopélvica nestes casos. Só recentemente, considerou-se a fraqueza do tecido conjuntivo como um dos fatores colaboradores do prolapso uterino.

Em relação ao componente de colágeno, estudos referem redução da celularidade e da quantidade de colágeno, maior produção de colágeno tipo III, bem como alterações inerentes do tecido conjuntivo, como ocorre na síndrome de Ehlers-Danlos e de Marfan. Entretanto, raros são os relatos que se referem às alterações do componente elástico da fáscia endopélvica. Demonstrou-se a fragmentação e redução da quantidade de fibras elásticas na parede vaginal de pacientes com cistocele(bexiga caída, que tem como principal consequência a incontinência urinária).

A elasticidade, e portanto a complacência dos tecidos é dada pelo sistema de fibras elásticas, que está constituído por arcabouço microfibrilar que contém elastina, as fibras maduras e as elaunínicas, responsáveis pela elasticidade, e por fibras oxitalânicas, que contêm apenas microfibrilas, sendo responsáveis pela resistência... Dependendo da função do tecido, elasticidade ou resistência, varia a quantidade e o tipo de fibra elástica. Além disso, alterações estruturais e arquiteturais do sistema de fibras elásticas promovem redução da elasticidade e conseqüente enfraquecimento dos tecidos, como ocorre com o envelhecimento da fáscia transversal, que favorece o aparecimento de hérnia inguinal direta, e da fáscia dos músculos esqueléticos, promovendo redução da complacência muscular.

Em nosso estudo demonstramos alterações estruturais das fibras elásticas, ou seja, espessamento, tortuosidade e fragmentação, bem como desarranjo arquitetural. Estas alterações são semelhantes àquelas encontradas no envelhecimento do tecido conjuntivo. Estas alterações das fibras elásticas, que podem ser decorrentes de defeito da elastogênese ou aumento da atividade elastolítica, tornam a fáscia endopélvica menos complacente e com frouxidão, o que parece ter favorecido o aparecimento de prolapso uterino nesta paciente.



OBS. Omitimos o Relato do caso e os resultados da análise histopatológica por serem estritamente técnicos e pouco acessíveis ao público em geral. O texto na íntegra encontra-se na Rev. Bras. Ginecol. Obstet. vol.23 no.1 Rio de Janeiro Jan./Feb. 2001 ou ainda em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S0100-72032001000100008&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

Um comentário:

  1. Ainda estou em fase de diagnóstico e os médicos sofrem com os meus exames contraditórios. Alguém teve algum sinal de mal formação óssea durante a infância? Alguém teve algum tipo de sangramento ou dor?!Meus sintomas são vagos e os médicos dizem que nessa síndrome em casos raros ocorre sangramento mas nunca dor... e tenho dores e câimbras horríveis... Alguém pode me ajudar!? Obrigada...

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